quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Entrevista a revista " Rolling Stone " - Parte II


De onde vinha o dinheiro na sua família? Seu pai biológico te ajudava?
Meu pai biológico não, mas meu avô sim. Nunca tive perrengue, era aquilo que tinha e era maravilhoso. Minha mãe sempre trabalhou. Éramos classe média baixa, mas nunca precisei de mais do que minha mãe sempre me ofereceu. E se tivesse menos eu ia estar feliz, então eu não sei o que é perrengue. Minha mãe é psicóloga, terapeuta, assistente social. Tudo na área da saúde social.

Voce lê tudo que sai na imprensa sobre você?
Nunca pensei...

Você não se interessa?
Acho meio narcisista.

Mas não rola uma vaidade do tipo "Ah, estou aparecendo bem, estou sendo bem recebida"?
Não... Eu fico feliz com as coisas dos meus amigos. Não que eu não fique feliz com as coisas que acontecem pra mim e pra minha família. Mas a minha vaidade mora na minha execução. Aí é estudar. Eu sempre fui assim, indiferentemente se estivesse tocando na Braumeister ou no Vivo Rio.

Você sempre fala do desapego, do amor que você tinha por tocar em bares. Você não buscou esse sucesso?
Nunca tinha pensado em gravar CD, ser famosa, cantar em programa da Globo. Nunca pensei. Já me chamaram várias vezes pra ir ao programa do Raul Gil. Vou competir com os outros? Não vou competir com as pessoas, a arte não é algo pra se competir. Como é que você julga que uma coisa é melhor que a outra? Coisa ignorante. Não gosto dessa política da competição... Botam criança, mexer com arte - você mexe com o íntimo muito sensível, até da criançada. Bota a criançada extremamente exposta pra competir. Isso fode com a cabeça e com o coração de uma criança dessas pro resto da vida, cara. Terapia dos 20 pra cima, até morrer.

Então você nunca tinha pensado em gravar um disco?
Não. Já gravei umas demos, até pra marcar as mudanças, porque eu sou muito perfeccionista. Todo ano eu gravava um CD pra poder me ouvir e achar todas os erros, aí eu estudava, estudava, e gravava outro pra ver. Mas isso é uma coisa minha de execução, essa que é minha vaidade. Escrever, ler pra caralho. Tipo, 'Que poesia pobre que eu estou fazendo, perto das coisas que eu gosto'. Aí eu leio.

O que você gosta de ler?
Tudo. Gosto de coisa criativa. Não sou muito fã de poesia concreta. É lindo, mas não é aquilo que apetece meu olho. Gosto de criatividade, por isso gosto muito de Harry Potter. Não é aquele egoísmo da poesia. Você lê um poema aí toma pra você, bate na sua emoção. A criatividade te bota na emoção do outro, você entra no mundo do outro.

Por que você trocou o Mayra, seu nome real, por Maria?
Mayra ninguém merece. Ninguém nunca acerta teu nome, é Maira, Maiara. Um saco. Foi me irritando ao longo dos anos. Minha mãe não queria esse nome. Ela queria um nome simples, curtinho, que ninguém confundisse. Ou Maria, ou Nina. Mas meu pai [biológico] queria, porque todo mundo na família tinha nome indígena.

Quando você começou a tocar violão?
Ganhei o violão com oito anos. Já estava na Emia (Escola Municipal de Iniciação Artística) fazia um ano, ficava lá meio período. Lá eu aprendia a construir instrumento, tinha aula de conhecimento, não era uma aula especifica. Fiquei lá uns quatro anos, mas fazendo lance de oficina artística. A primeira música que aprendi a tocar foi "Uma Brasileira" [Paralamas do Sucesso].

Você tem formação clássica, sabe ler partitura?
Não. Entrei com uns 12 anos na ULM (Universidade Livre de Música), mas só fiquei um mês. Não tinha paciência porque era muito longe da minha casa e eu sempre gostei muito de tirar as paradas de ouvido. Lá tinha que ler [partitura], e eu não tinha paciência. Eu queria tirar tudo de ouvido: o professor vinha reclamar, "Você não esta lendo!". E eu: "Mas o importante não é tocar?" [risos] Mas eu arrependo muito, porque naquela fase, quando mais jovem, você está muito mais sensível para o aprendizado.

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